O mapeamento do potencial eólico para todo o território brasileiro foi realizado a partir do modelo numérico de mesoescala Brams (Brazilian developments on the Regional Atmospheric Modeling System), com resolução horizontal de 5 km x 5 km e uma rede de medições anemométricas utilizada para ajuste dos resultados.
Nesta seção serão apresentadas as metodologias utilizadas para ajuste dos resultados de mesoescala. Também serão descritos os dados anemométricos utilizados no ajuste e validação dos resultados além dos cálculos necessários para elaboração dos diversos mapas temáticos, tais como os de velocidade e direção do vento em diversas alturas, fator de forma e escala da distribuição de Weibull, regime diurno etc.
[1] European Centre for Medium-Range Weather Forecasts
- Dados de estações sinóticas convencionais e estações automáticas do Inmet[1];
- Dados de aeroportos e aeródromos (a maior parte do DECEA/ICEA[2]);
- Dados da rede de estações da Marinha do Brasil;
- Dados de outras redes regionais (PCDs do Inpe, Funceme, ANA, Cemig etc.)
[1] Instituto Nacional de Meteorologia [2] Departamento de Controle do Espaço Aéreo/Instituto de Controle do Espaço Aéreo
- Avaliação dos dados observados;
- Elaboração do campo de ajuste;
- Validação dos resultados.
1.1 Avaliação dos dados observados
Conforme já citado, foram utilizados dados provenientes de estações anemométricas de parques eólicos em operação e de estações sinóticas[2] de aeroportos para realização dos ajustes necessários dos resultados do modelo Brams. Tendo em vista que os resultados apresentados neste trabalho são baseados nas simulações realizadas para o ano de 2013, todo o conjunto de dados utilizados para ajuste dos resultados simulados também foram medidos no mesmo período. Uma vez que a autorização para uso dos dados anemométricos provenientes de parques eólicos era restrita ao fornecimento de médias mensais da velocidade e direção do vento na altura referente aos aerogeradores instalados, e que não foi possível realizar investigações mais profundas através de séries horárias (o que tornaria possível a comparação, por exemplo, do regime diurno simulado com o observado), a aplicação das referidas médias para fins de ajuste dos resultados do Brams foi realizada de forma direta. A qualidade e a disponibilidade dos demais dados obtidos de estações meteorológicas, anemométricas e climatológicas foram os principais limitantes para utilização de uma quantidade maior de estações para ajuste. Conforme já mencionado na seção 1.2, todas as estações previamente escolhidas passaram por uma avaliação de qualidade onde os principais critérios utilizados para o descarte de dados medidos foram:- Comportamento temporal anômalo (como dados repetidos ou que variam muito rapidamente)
- Coerência com dados de estações próximas,
- Desvios significativos em relação aos dados climatológicos disponíveis para a região[3],
- Falta de representatividade regional (como estações instaladas em praias, isto é, numa zona limítrofe entre duas regiões muito distintas),
- Insuficiência de dados.
1.2 Elaboração de campos de ajustes
A partir das médias anuais de cada estação (anemométricas provenientes de parques eólicos e aeroportos) e as médias dos nove valores de grade do modelo Brams associados a cada estação, foi gerada uma tabela com a razão entre dados medidos e simulados para composição do campo de ajustes. A fim de não forçar correções importantes em áreas muito distantes dos dados observados, onde a sua representatividade é menor, o método de correção assume que o desvio sistemático calculado para um ponto vai variar de forma inversamente proporcional à distância. Dessa forma, a não ser que existam dados observados numa distância próxima de acordo com as definições dos parâmetros da interpolação, os resultados numéricos serão corrigidos de forma cada vez menos intensa, prevalecendo os valores numéricos originais para os locais muito distantes dos locais com dados observados. Assim, a partir da razão entre os dados medidos e simulados para as localidades selecionadas, foi gerado um campo interpolado para todo o território Brasileiro, na mesma grade do modelo. Durante a elaboração do campo de ajustes, concluiu-se que o mesmo pode ser aplicado para todas as alturas simuladas do modelo. As avaliações realizadas mostraram que não há uma interdependência entre desvios e altura, isto é, os desvios sistemáticos do modelo são dominados por fatores climáticos e geográficos. Assim, concluiu-se que é desnecessário gerar um campo de ajuste para cada altura de interesse apesar das diferenças de alturas de medição dos dados observados (dez metros em aeroportos e valores entre 80 e 100m de altura em estações anemométricas de parques eólicos). Basta aplicar o mesmo campo de ajuste (que engloba as informações de todas as estações em qualquer altura) para ajustar a velocidade em cada altura.1.3 Validação e avaliação estatística dos resultados
A validação dos resultados do ajuste consistiu na comparação dos valores ajustados com dados e informações disponíveis que não foram utilizados para gerar o campo de ajuste. Além de utilizar dados provenientes de estações meteorológicas convencionais e automáticas do Inmet e de outras instituições, dados de aeroportos do DECEA/ICEA, relatórios climatológicos do Inmet e do DECEA/ICEA e de campos interpolados, obtidos a partir de todas as observações disponíveis na base de dados do CPTEC para 2013, também foram utilizados dados provenientes de radiossondagens do Inmet e do DECEA/ICEA e dados do mapa do potencial eólico publicado pelo Cepel em 2001. As discrepâncias detectadas foram analisadas e correções aplicadas sempre que necessário, seja com a inclusão de novos dados para refinar o fator de ajuste em áreas problemáticas, seja com as exclusões de medições que se mostraram problemáticas ou sem representatividade das condições regionais. Foram geradas seis versões do campo de ajuste, cada uma com melhorias implementadas progressivamente sobre resultados dos ajustes de versões anteriores. À medida que os campos ajustados foram gerados, os dados foram repassados para a equipe do Cepel, que fez verificações à parte e calculou a Raiz do Erro Quadrático Médio (RMSE) e outros índices estatísticos (o relatório completo da avaliação estatística encontra-se no Anexo I). Estas avaliações estatísticas utilizaram dados de estações meteorológicas situadas em aeroportos disponíveis nos arquivos do CPTEC/Inpe, assim como dados de estações anemométricas da base de dados do Cepel (Figura 5). A metodologia dos testes estatísticos se baseou na comparação dos campos ajustados do modelo com as medidas de estações selecionadas para formar um grupo de controle, que não foram utilizadas para ajustar os campos do modelo. Do conjunto de dados disponíveis, cerca de 15% foram separados para formar um grupo de controle. Das 99 estações meteorológicas de aeroportos, 84 tiveram seus dados utilizados para o ajuste e 15 tiveram SUS dados utilizados para formar o grupo de controle. Das 39 estações anemométricas de parques eólicos, 29 tiveram seus dados utilizados para o ajuste e 10 tiveram seus dados para compor o grupo de controle. Os resultados obtidos ao longo do processamento das várias versões de ajuste mostraram uma melhora significativa da última versão. Obteve-se uma média de erro absoluto (MAE) de 0,44 m/s e um RMSE de 0,57 m/s, que são valores compatíveis com as variabilidades de medições anemométricas teoricamente calculadas pela norma IEC 61400-12-1 Power performance measurements of electricity producing wind turbines ou determinadas experimentalmente (NEIVA et al., 2016).[1] Desvios sistemáticos ou erros sistemáticos são devidos a causas identificáveis e podem, em princípio, ser eliminados. Erros desse tipo resultam em valores que são sistematicamente mais altos ou mais baixos em relação a um valor esperado. Um exemplo deste tipo de desvio pode ser observado nas medições realizadas em equipamentos descalibrados. [2] Estações sinóticas têm por objetivo fornecer dados para previsão do tempo. As medições realizadas nas estações sinóticas incluem direção e velocidade do vento, temperatura do ar, umidade relativa do ar, precipitação, pressão atmosférica, incidência de nuvens e geadas. As leituras são realizadas, na maioria dos casos, de forma manual e sempre três vezes ao dia: às 9, 15 e 21 horas. [3] Estes desvios significativos também foram identificados através de inspeção visual do campo de interpolação. Este recurso, apesar de ser um critério subjetivo, permitiu identificar e eliminar rapidamente dados impróprios para o ajuste final dos dados simulados. [4] Esta técnica foi utilizada por Móser e Raschke (1983) que optaram por comparar as médias obtidas dos piranômetros com os valores médios obtidos com o satélite, somente após ponderar estes últimos em função da distância entre cada setor da imagem e o setor onde se localizava o piranômetro de validação. No estudo realizado, uma imagem de satélite com (5 x 6) células foi utilizada para validação através dos dados de uma estação solarimétrica próxima. Já os autores de Cess et al. (1995), que dispunham de vários piranômetros distribuídos pelo setor de validação, optaram por comparar o valor médio obtido de onze piranômetros da rede com os valores fornecidos pelo satélite para o setor. [5] A Organização Meteorológica Mundial (OMM) define Normais como “valores médios calculados para um período relativamente longo e uniforme, compreendendo no mínimo três décadas consecutivas” e padrões climatológicos normais como “médias de dados climatológicos calculadas para períodos consecutivos de 30 anos. No caso de estações para as quais a mais recente Normal Climatológica não esteja disponível, seja porque a estação não esteve em operação durante o período de 30 anos ou por outra razão qualquer, Normais Provisórias podem ser calculadas. Normais Provisórias são médias de curto período, baseadas em observações que se estendam sobre um período mínimo de 10 anos (INMET,2017).
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